O cenário de vendas ilegais externado em um país míope e cada vez mais desigual
Herdeiro de uma condição socioeconômica questionável e mergulhado em uma crise monetária que assola o país desde 2016, o cenário do Brasil corrobora para uma realidade onde querer trabalhar exige muito mais que capacitação. A escassez de vagas e o escoamento do emprego desfavorece uma classe que já não contava com oportunidades ao seu favor.
O comércio ilegal inserido em nosso cotidiano
A cena do vendedor ambulante torna-se uma constante em cada praça, cruzamento e até nas estações de metrô, onde vagões viram lojas de aparelhos tecnológicos dos mais diversos tipos e cores. Os gadgets estão à disposição das centenas de passageiros, que dividem seu espaço com ofertas literalmente ambulantes.
Tem para todos os gostos, tem para todos os bolsos. O emprego informal deixa velada a procedência dos produtos e cede espaço para a conivência de uma população que enxerga nos vendedores ambulantes apenas brasileiros em busca de renda para a sobrevivência. O contraponto dessa cumplicidade vai muito além do olhar comum dos cidadãos.
O moço que vende “oito pilha a um real” é, na maioria das vezes, um filho passivo do roubo de carga – mesmo sem saber que faz parte de um esquema fraudulento. O comércio ilegal de produtos é, portanto, um dos fatores ligados às múltiplas situações originadas do roubo de cargas, um crime que permanece sem controle nas principais regiões brasileiras, e que segundo estudo da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística geraram prejuízos na ordem de R$ 1,27 bilhão apenas em 2021.
Recentemente, em um conceituado fórum sobre o tema, foi demonstrado que São Paulo e Rio de Janeiro permanecem na liderança deste grave problema, que já afeta a malha de transporte e distribuição de todo o país.
A realidade socioeconômica e a segurança pública
Alimentos frigorificados, eletroeletrônicos e bebidas elencam o topo das cargas mais furtadas. Porém, o problema é ainda maior e traz duas constatações. A primeira, e já externada neste artigo, está ligada ao cenário e/ou ambiente econômico. A segunda, diz respeito à segurança pública.
A população desempregada movimenta um mercado paralelo associado à crise moral e ética pela qual o brasileiro passa. Feiras intituladas “robautos”, “feira do rolo”, entre outros nomes, são verdadeiros mercados a céu aberto onde produtos advindos de roubos e furtos são expostos e vendidos. Um comércio que passa pelas comunidades e segue em direção às estações de trens, metrô e ônibus.
A falta de investimentos em segurança pública agrava ainda mais o cenário atual, deixando a população à mercê de uma segurança fragilizada e precária, já que assistimos a impunidade de receptações e a falta de investigações por parte dos órgãos públicos. Com um sistema fragilizado, o crime organizado se estrutura cada vez mais e, assim, as cargas roubadas viram uma parte importante da receita de facções.
A logística do crime que movimenta milhões
A logística dos interceptadores é uma aula de escoamento estratégico à parte, a exemplo dos caminhões interceptados em estradas e levados para a entrada de comunidades. Estamos falando de uma entrega expressa na porta da casa dos marginais, sem o menor esforço logístico.
Com uma estrutura de grandes empresas, onde os processos são muito bem planejados para refletir em bons resultados e rendimentos, o mercado do crime de roubo de cargas garante o lucro e constrói o seu império. Estudos feitos por institutos especializados em segurança pública mostraram que os criminosos lucram com o roubo de cargas, em um único dia – e somente no Rio de Janeiro -, mais de um milhão de reais, quantia esta que seria arrecadada em mais de uma semana vendendo-se drogas.
Esta discrepante realidade clama por medidas urgentes e resolutivas para a sociedade como um todo. O roubo de cargas impacta empresas de grande e pequeno porte juntamente com a população. A arrecadação é compactada todo mês em milhões, um prejuízo sem precedentes.
Medidas certas podem reverter o cenário
Atualmente, o combate efetivo baseia-se em ações no campo político, capitaneadas por associações e outras entidades que trafegam com cartas e ofícios de solicitações com macro ideias, mas sem prazos definidos. Nada de concreto.
Resta neste cenário a proatividade da iniciativa privada. Entender, decidir, investir e realizar uma gestão de mudanças. Enquanto isso não acontece, as empresas especializadas em segurança têm se tornado uma opção para as companhias que desejam refrear o roubo de cargas e todos os seus desdobramentos corporativos e sociais.
Seja com o uso de tecnologias para gerenciar riscos ou melhores procedimentos para analisar possíveis vulnerabilidades e gargalos ligados à falha humana ou má intenção, o esforço das empresas significa um grande passo no âmbito social para evitar a proliferação de mais filhos indiretos do mercado ilícito de roubo de cargas.
Texto adaptado da publicação realizada originalmente em 10/Mar/2022 no site www.ictssecurity.com.br.